Foto.: Beto Barata/ PL - Divulgação Ou a guerra fria entre Nikolas Ferreira e o bolsonarismo e a disputa por poder e espaço em Minas Gerais ...
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Foto.: Beto Barata/ PL - Divulgação |
Ou a guerra fria entre Nikolas Ferreira e o bolsonarismo e a disputa por poder e espaço em Minas Gerais
Em um cenário de tensões e disputas internas, o bolsonarismo parece estar voltando suas armas contra seus próprios aliados. O mais recente alvo é o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que, segundo relatos, está sendo "rifado" pelo comando bolsonarista em um movimento que mistura ciúme, medo de perder espaço e a busca desenfreada por poder. A situação expõe as fissuras dentro da extrema direita brasileira, que, em vez de se unir, parece estar se devorando em uma luta fratricida.
O distanciamento entre Nikolas e Bolsonaro não é casual. Enquanto o ex-presidente enxerga o deputado como um potencial "puxador de votos" em Minas Gerais, capaz de garantir cerca de 20 cadeiras para o PL no estado, Nikolas não parece disposto a se limitar ao papel de mero cabo eleitoral.
Ele tem construído sua própria base de apoio, reunindo prefeitos e vereadores que não se identificam apenas como bolsonaristas, mas como "nikolistas". Essa autonomia tem gerado desconforto no comando bolsonarista, que vê no deputado uma ameaça ao seu projeto de poder.
A crise ganhou contornos públicos após declarações de aliados próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que acusam Ferreira de "traição" por não alinhar-se completamente às diretrizes do grupo. O deputado, que foi o mais votado do país em 2022, tem sido visto como uma ameaça ao projeto de poder bolsonarista, especialmente por sua popularidade crescente e por demonstrar independência em algumas decisões políticas.
A situação lembra o caso da ex-deputada federal Joyce Hasselmann, outrora uma das principais vozes do bolsonarismo, que foi abandonada pelo grupo após divergências internas. Hasselmann, que recebeu mais de 1 milhão de votos em 2018, viu sua carreira política desmoronar após ser desprezada pelos bolsonaristas, culminando em apenas 1.673 votos na última eleição. Agora, parece ser a vez de Nikolas Ferreira enfrentar o mesmo destino.
O ciúme e o medo de perder o poder
A decisão de "rifar" Nikolas Ferreira não parece ser motivada apenas por divergências políticas, mas também por um sentimento de ciúme e medo de perder o controle sobre a base aliada. Com Bolsonaro enfrentando processos judiciais que podem torná-lo inelegível e até levá-lo à prisão, a disputa por quem assumirá a liderança do movimento bolsonarista tem se intensificado. Ferreira, com seu perfil jovem e capacidade de mobilização, é visto como um concorrente natural para esse posto, o que desperta receios no núcleo duro do bolsonarismo.
Além disso, o deputado tem sido criticado por manter proximidade com figuras como o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, que foi alvo de investigações, e por não apoiar integralmente o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, candidato preferencial de Bolsonaro na capital paulista. Essas atitudes têm sido interpretadas como sinais de deslealdade, levando a uma campanha interna para descredibilizá-lo.
O estopim da crise
A relação entre os dois já vinha se deteriorando, mas o estopim da crise ocorreu durante a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. Nikolas anunciou publicamente que votaria em Hugo Motta porque "Bolsonaro mandou". A declaração, que deveria demonstrar lealdade, acabou tendo o efeito contrário. O ex-presidente não gostou de ser retratado como um líder autoritário, cujos aliados agem como marionetes. Além disso, a base bolsonarista nas redes sociais clamava pelo apoio a Marcel van Hattem (Novo-RS), o que colocou Nikolas em uma posição ainda mais delicada.
Desde então, o afastamento só aumentou. Nikolas sequer foi informado sobre a mudança do ato pelo impeachment do presidente Lula (PT) para Copacabana, uma estratégia de Bolsonaro para dar dimensão internacional ao evento e reforçar sua narrativa de perseguição política. O deputado, por sua vez, declarou publicamente que ainda não sabe se comparecerá ao ato, já que a data coincide com o aniversário de sua filha mais velha, Aurora.
A estratégia de isolamento
Segundo fontes próximas ao grupo, a estratégia é isolar Ferreira politicamente, reduzindo sua influência e limitando seu acesso a recursos e apoios fundamentais para sua atuação. O objetivo é evitar que ele se torne uma liderança alternativa dentro da extrema direita, garantindo que o comando do movimento permaneça nas mãos de figuras alinhadas incondicionalmente a Bolsonaro.
No entanto, essa tática pode sair pela culatra. Ao atacar um de seus principais nomes, o bolsonarismo corre o risco de fragmentar ainda mais sua base, especialmente entre os jovens eleitores que veem em Ferreira uma renovação necessária para o movimento. Além disso, a postura de "queimar" aliados pode afastar outros nomes que temem sofrer o mesmo destino.
O futuro incerto do bolsonarismo
Enquanto o bolsonarismo se desgasta em brigas internas, o futuro do movimento parece cada vez mais incerto. Com Bolsonaro enfrentando sérias ameaças jurídicas e sem um plano claro de sucessão, a extrema direita brasileira vive um momento de profunda instabilidade. A decisão de "rifar" Nikolas Ferreira pode ser apenas o primeiro capítulo de uma série de conflitos que tendem a enfraquecer ainda mais o grupo.
Enquanto isso, Ferreira parece ciente dos riscos que corre. Em vez de se alinhar completamente ao bolsonarismo, ele tem buscado construir uma imagem mais independente, apostando em sua própria capacidade de mobilização e no apoio de sua base eleitoral. Resta saber se essa estratégia será suficiente para garantir seu futuro político ou se ele acabará seguindo o mesmo caminho de outros aliados que foram descartados pelo movimento.
Uma coisa é certa: o bolsonarismo, que sempre pregou a união e a obediência canina, está longe de ser um bloco coeso. E, em meio a essa guerra interna, quem perde é a própria extrema direita, que vê seu projeto de poder desmoronar diante de suas próprias contradições.
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