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Caco Barcellos e Mino Carta são homenageados

Caco Barcellos e Manuela Carta discursam durante entrega do Troféu Audálio Dantas 2025. Foto: Cezar Xavier Evento realizado na Câmara Munici...

Caco Barcellos e Manuela Carta discursam durante entrega do Troféu Audálio Dantas 2025. Foto: Cezar Xavier
Caco Barcellos e Manuela Carta discursam durante entrega do Troféu Audálio Dantas 2025. Foto: Cezar Xavier

Evento realizado na Câmara Municipal de São Paulo homenageou Caco Barcelos, Mino Carta e equipe do Profissão Repórter por seu compromisso com a verdade, liberdade de imprensa e denúncias contra abusos de poder


Por Cezar Xavier do Portal Vermelho

Na noite desta sexta-feira (6), o Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo foi palco da entrega do Troféu Audálio Dantas 2025 , uma homenagem a profissionais que, como o patrono do prêmio, dedicam suas carreiras à “indignação, coragem e esperança”. A cerimônia, alinhada ao Dia Nacional da Liberdade de Imprensa, reuniu jornalistas, sindicalistas, acadêmicos e representantes de entidades ligadas à comunicação, destacando a luta por uma mídia independente em tempos de polarização.

A sexta edição do Troféu remontou às raízes do prêmio. Idealizado em 2018 durante as comemorações dos 25 anos da Agência Sindical (presidida por João Franzin), a estatueta - uma releitura pela cartunista Laerte de São Jorge com microfone e GoPro no lugar da lança e elmo - surgiu como “Troféu Indignação, Coragem e Esperança”.

Sob a regência da Família Audálio Dantas, do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, da Oboré, do Instituto Vladmir Herzog, e do vereador Eliseu Gabriel, com a curadoria de dezenas de entidades e personalidades do jornalismo e da sociedade civil. Transformou-se em 2020 em tributo permanente a Audálio Dantas (1929-2018), símbolo da luta por direitos humanos e liberdade de imprensa.

Audálio Dantas: O legado de um jornalista que escolheu o lado certo da história

O prêmio tem como patrono Audálio Dantas, repórter e sindicalista que dedicou sua vida à defesa dos direitos humanos e à denúncia de violações durante a ditadura militar brasileira. Sua trajetória foi lembrada por Sérgio Gomes (Oboré), que conduziu a cerimônia: “Audálio não só documentou a história, como fez parte dela. Ele esteve nas ruas, nas vigílias pelas vítimas da ditadura, e nunca hesitou em enfrentar o poder”.

Sérgio Gomes, curador do prêmio, lembrou os desafios da primeira edição: marcada para abril de 2020, foi realizada virtualmente devido à covid-19. “Enviamos o troféu de motoboy para Patrícia Campos Melo, com todos de máscara”, relatou. O formato improvisado reforçou a resiliência que define o prêmio - entregue anualmente em 7 de junho.

Vanira Kunc, viúva de Audálio, emocionou o público ao resgatar a trajetória do homenageado: das reportagens pioneiras na Folha da Tarde (como a cobertura da fome na antiga Avenida Itororó, em 1957) às denúncias no hospital psiquiátrico do Juqueri (1963), onde se internou para documentar atrocidades. “Sua grande paixão foi a reportagem. Jamais deixou de se indignar, ter coragem e esperança”, afirmou. Um documento inédito exibido na cerimônia - o último discurso público de Audálio, cinco meses antes de sua morte - fez com que o jornalista parecesse estar presente ao evento.

Audálio presidiu o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo e a Federação Nacional dos Jornalistas. Em sua gestão no Sindicato, se destacou pelo combate à ditatura militar e liderou os protestos contra o assassinato do jornalista Vlado Herzog, nas dependências do Doi-Codi, mobilizando toda a sociedade civil contra o governo de exceção e denunciando a falsa versão de suicídio do Vlado feito pelo governo militar.

Giuliano Galli (Instituto Vladimir Herzog) destacou o simbolismo da data: “Em 2025, completam-se 50 anos do assassinato de Vlado. Homenagear Audálio, Mino e Caco é renovar a luta”.

Fundador da agência sindical que inspirou o Troféu Audálio Dantas, João Franzino destacou a origem do prêmio durante seu discurso: “Quando decidimos homenagear Audálio Dantas, sabíamos que estávamos celebrando mais do que um jornalista - estávamos celebrando um símbolo da luta contra a ditadura e pela justiça. O jornalismo não pode ser neutro diante da opressão. Ele tem que ser a espada de São Jorge que corta o dragão da maldade” .

Franzino também ressaltou a importância de reconhecer o legado de figuras como Aldálio Dantas, patrono do troféu: “Audálio não só documentou a história — ele fez parte dela. Sua indignação e coragem são exemplos para todos nós” .

Caco Barcellos e Mino Carta: Do campo de batalha à redação

Entre os homenageados, Caco Barcellos, idealizador do programa jornalístico da Rede Globo Profissão Repórter, foi saudado por sua “coragem de ir às fronteiras mais perigosas e dar voz aos invisíveis”. Em vídeos, os colegas que o antecederam na contemplação do troféu (Patrícia Campos Mello, Valmir Salaro e Bruno Paes Manso) agradeceram “à equipe que arrisca a vida para mostrar a realidade do Brasil”, destacando reportagens sobre violência policial e corrupção.

Apresentador do Profissão Repórter, Caco Barcellos reafirmou seu compromisso com o jornalismo investigativo: “Sempre acreditei que o jornalismo verdadeiro começa nas ruas, nos olhos daqueles que ninguém vê. A reportagem não morreu — ela vive na coragem de quem enfrenta esquadrões da morte para contar histórias que o poder tenta calar” .

Durante a cerimônia, ele registrou sua investigação sobre a Rota 66, livro que expôs a violência policial: “Quando Mino Carta leu minha reportagem sobre os jovens fuzilados pela PM, ele disse: ‘Há muito tempo a gente deseja falar dessa extrema violência’. Isso resume nosso papel: revelar o que os poderosos querem esconder” .

Manuela Carta: “Mino ensinou que a indignação é motor do jornalismo”

Já Mino Carta, fundador da CartaCapital , foi celebrado por sua trajetória de resistência contra regimes autoritários. Um trecho de seu discurso na edição de 2023 ecoou na coletiva: “O jornalismo precisa revelar o que os poderosos tentam esconder” .

O histórico diretor de CartaCapital foi celebrado por sua “crítica implacável aos poderosos” (nas palavras de Caco Barcellos). Representado pela filha Manuela, recebeu a honraria como “guardião da palavra e da democracia”. “A indignação é o motor do jornalismo verdadeiro”, disse.

Manuela Carta destacou o legado do mestre: “Mino sempre dizia: ‘O jornalismo precisa se indignar. Sem isso, viramos meros transmissores de notícias vazias’. Ele não temia enfrentar regimes autoritários - e essa é a lição que carregamos hoje” .

Ela também ressaltou a relevância do prêmio: “O Troféu Audálio Dantas nunca é apenas uma homenagem. É um chamado à resistência. Meu pai adoraria ver Caco e sua equipe sendo reconhecidos por uma imprensa que, como ele, nunca deixou de lutar” .

Manuela concluiu com uma mensagem de esperança: “Mesmo diante dos ataques da extrema-direita, o jornalismo independente persiste. Como dizia Mino: ‘A coragem não é ausência de medo - é ação diante dele'” .

Equipe do Profissão Repórter : Jornalismo como instrumento de transformação

A equipe comandada por Barcellos, esteve presente com várias “gerações” de jovens jornalistas, sendo elogiada por “mostrar que a humanidade ainda caminha quando há jornalistas audaciosos e destemidos”. A equipe de jovens jornalistas foi aplaudida de pé. “Vocês mostram que a reportagem não morreu”, declarou a jornalista Marilu Cabañas. Caco dedicou o prêmio a Audálio e ao colega Woile Guimarães, que o iniciou no jornalismo investigativo nos anos 1970.

A equipe do programa da Globo foi aplaudida por sua persistência em investigações, que expõe de forma sólida temas complexos do jornalismo, enfrentando barreiras e buscando a verdade sobre os fatos de forma criativa e ousada. A editora-chefe Ana Janaina ressaltou o método do programa: “Todas as pessoas têm voz. O nosso papel é ouvi-las, gravar horas de depoimentos e editar histórias que tocam a sociedade”.

A cerimônia também contou com discursos de jovens jornalistas, como Melissa Joanini, presidente do Centro Acadêmico Benevides Paixão da PUC-SP: “Vocês são nossa inspiração. O jornalismo que vocês fazem educa e mobiliza”.

Desafios atuais: Liberdade de imprensa sob ataque

A noite não foi apenas de aplausos, mas também de alerta. Representantes do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e da Comissão Justiça e Paz denunciaram a escalada da censura e os ataques da extrema-direita aos meios de comunicação. Tiago Tanji, presidente do sindicato paulista, afirmou: “Precisamos lutar contra a repressão institucionalizada. O jornalismo independente é nossa maior arma contra a mentira”.

Ricardo Ramos Filho, da União Brasileira de Escritores ressaltou a eterna luta de Audálio e dos premiados contra o fascismo: “Audálio faz falta. Ele bradava contra o fascismo quando era necessário — e ainda é”. Melissa Joannini (Centro Acadêmico Benevides Paixão da PUC-SP) definiu: “Indignação, Coragem e Esperança não são só o lema do prêmio. São o DNA do jornalismo que salva vidas e constrói democracia.”

O vereador Eliseu Gabriel anunciou um projeto para renomear a Avenida Presidente Castelo Branco (Marginal Tietê), o primeiro mandatário da ditadura militar iniciada em 1964, como Avenida Audálio Dantas, eternizando seu legado na cidade.

Um chamado à ação para as novas gerações

A cerimônia terminou com um apelo à união. Como lembrou Vanira: “A falta de representatividade nos grandes veículos perpetua desigualdades. Sonhamos com um futuro mais plural, onde prêmios como esse reconheçam a diversidade da nossa sociedade”.

O evento reforçou um recado claro: em meio à crise política e à desinformação, o jornalismo corajoso e independente permanece como farol para a democracia.

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